Ao encerrar o Global Agribusiness Forum (GAF16), no início da noite de terça (5), em São Paulo, o presidente da Embrapa Maurício Lopes salientou que os cenários futuros demandam construir uma agricultura resiliente, eficiente e multifuncional. O desafio de ampliar a oferta de alimentos de elevada qualidade para uma população urbana mais idosa e exigente terá que vir com mais aplicação de ciência e modelagens de futuros possíveis.

Ao ressaltar o avanço tecnológico no setor agropecuário, Lopes destacou que a ciência oferece ferramentas cada vez mais poderosas, tais como edição de genômas, nanociência, geotecnologias, automação e sistemas de precisão, para a agricultura alcançar uma agenda de futuro alinhada com as necessidades da sociedade.

Sobre o conceito de resiliência, Lopes ressalta que a agricultura enfrenta ambientes desafiadores, nos quais a capacidade de adaptação deve ser constante. Como exemplo, o pesquisador cita a intensificação das mudanças climáticas como um desafio para a agropecuária mostrar ser capaz de responder às mudanças. “A revolução do plantio direto foi um ganho fabuloso na construção de mais resiliência na nossa agropecuária, que permitiu termos uma segunda safra. Estamos construindo agora uma outra revolução, de mais resiliência, trabalhando com os sistemas integrados”, comenta.

Segundo Lopes, a chamada “intensificação sustentável”, por meio da integração lavoura, pecuária e floresta, economiza recursos naturais e permite construir reservas de água e de carbono. O conceito “carne carbono neutro”, uma tecnologia alinhada à necessidade de ampliar a oferta de alimentos com menor impacto ambiental, também foi destacado pelo pesquisador.

Para alcançar um padrão de produção coerente com o novo padrão de consumo, Lopes ressalta que a agricultura terá que acompanhar as transformações demográficas e socioeconômicas mundiais. Tais mudanças caracterizam-se pelo aumento da expectativa de vida da população, incremento da população urbana e ampliação da classe média. Diante deste cenário, a agricultura terá que dar respostas ao aumento da demanda por alimentos mais sofisticados.

“O USDA projeta, para os próximos 10 anos, um crescimento médio do PIB de 4,7% ao ano para os países em desenvolvimento. Isso implicará em dietas mais diversificadas com aumento da demanda por produtos lácteos e carnes”, complementa Warren Preston, economista chefe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e painelista no GAF16.

Além da resiliência, a agricultura terá que ampliar a eficiência, entendida como o uso mais planejado e eficiente da base de recursos naturais, explica Lopes. Dentre os muitos desafios, o pesquisador ressalta a necessidade de descarbonizar a agricultura.

Agricultura é multifuncional

A natureza multifuncional do mundo rural cria oportunidade para que a sociedade perceba a atividade agropecuária como sendo muito mais relevante. Lopes destaca que a agricultura moderna vai além da sua missão tradicional de produzir alimentos, fibras e energia. Neste contexto, ganham força as pesquisas da linha alimento, nutrição e saúde. Ao contribuir com a produção de alimentos com maior valor nutricional, “a agricultura ajudará o mundo a migrar do paradigma da cura de doenças para o da prevenção de doenças”, destaca.

Ainda com relação à multifuncionalidade, a agricultura também é vista como alternativa para prover mais serviços ambientais e ecosistêmicos. “Teremos mais interface com a indústria da química verde, biomassa, biomateriais, e interface com a cultura, a gastronomia e o turismo”, ressalta.

A possibilidade de aproximar a agricultura da sociedade urbana por meio do agroturismo e da gastronomia, atividades valorizadas na França e Itália, por exemplo, é citada como uma forma de melhorar a imagem da atividade agropecuária e gerar mais renda. “A agricultura terá que ser vista como uma solução e um componente crítico para um futuro sustentável”, salienta Lopes.

As ações de comunicação também são essenciais para melhorar a relação do setor agropecuário com o público urbano. Para o pesquisador, a sociedade está mais crítica e a comunicação será sempre um desafio gigantesco. “O discurso da resiliência, eficiência e multifuncionalidade da agricultura fortalece a capacidade de comunicar o quanto o agronegócio é estratégico para o mundo”, explica.

Objetivos de desenvolvimento sustentável

Para Lopes, a agricultura tem pela frente um “quebra-cabeça relativamente complexo até 2050”. Temas como meio ambiente, pobreza e saúde estão relacionados com a atividade agropecuária e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, aprovados em 2015 pelas Nações Unidas, ressaltam a importância da atividade para o futuro sustentável da humanidade. “Dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma dúzia deles apresentam relação com alimentação e agricultura”, enfatiza.

Gustavo Porpino (RN648 JP)
Secretaria de Comunicação