Nesta segunda, 02, o Giro do Boi levou ao ar entrevista da pesquisadora da Embrapa Soja Mariângela Hungria, engenheira agrônoma, mestre e doutora em ciências do solo. Ao apresentador Mauro Sérgio Ortega, Mariângela falou sobre sua pesquisa com bactérias promotoras de crescimento vegetal, inicialmente utilizadas no Brasil para culturas como soja, milho e trigo, mas que demonstrou bons resultados também para sementes de pastagens, aumentando em 15% a produção de biomassa e promovendo em 25% o teor de proteína bruta nas cultivares Brachiaria brizantha (Braquiarão) e Brachiaria ruziziensis.
“São bactérias que são verdadeiras indústrias de fitormônios, promotoras do desenvolvimento das plantas. Em 2009 nós comprovamos que estas bactérias são boas não só para as leguminosas, mas para gramíneas como o milho e o trigo. Nosso próximo passo, já que estamos trabalhando muito com sistema de integração lavoura-pecuária, era testar com a braquiária, que é o capim mais utilizado no sistema. Então nós estendemos nossa pesquisa para identificar as bactérias que fossem boas com as braquiárias”, apresentou engenheira agrônoma.
No Brasil, a técnica é comum nas lavouras de soja, em que os agricultores praticamente eliminaram a necessidade de aplicação de adubo nitrogenado por conta das bactérias que fazem a fixação de N no solo. “No caso das gramíneas, essas bactérias agem de duas maneiras para diminuir o que o produtor precisa colocar de nitrogênio ou fertilizante. Elas dão contribuição pela fixação biológica, que captura nitrogênio do ar, e produzem ainda muito ácido indolacético. Então as raízes das plantas chegam a dobrar o seu volume. Isso significa maior volume de raízes, que conseguem absorver melhor o nitrogênio disponível no solo e do próprio fertilizante colocado”, detalhou Mariângela.
Nas pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, descobriu-se que o pecuarista pode poupar uma aplicação de até 40 kg por hectare de ureia em sua pastagem. “O pecuarista ainda coloca (adubo), mas vai reduzir muito. No nosso caso, foram utilizados 40 kg de N, só que com a uso das bactérias, isto foi o equivalente a uma segunda aplicação de 40 kg de N. O produtor estaria economizando 50% do fertilizante que ele teria que usar. E é bom lembrar que hoje o Brasil importa mais de 70% dos fertilizantes que consome, que é cotado em dólar e é muito caro”, avaliou a pesquisadora da Embrapa Soja.
Como o custo médio de 40 kg de adubo nitrogenado é de cerca de R$ 150 e o custo da inoculação das sementes de forrageiras é de R$ 15, o pecuarista poderia substituir uma aplicação de fertilizantes por um valor dez vezes menor. “É um custo dez vezes menor e ainda produzindo mais”, complementou Mariângela, citando os 15% a mais de biomassa e os 25% a mais de teor de proteína bruta que as forrageiras que foram inoculadas têm. “Um agricultou da região falou que conseguiu adiantar em 15 dias a entrada do gado no pasto. Produzindo mais forragem e de melhor qualidade, […] o gado vai ganhar mais peso e mais rápido”, acrescentou.
A prática tem ainda uma pegada sustentável do ponto de vista ambiental. Segundo Mariângela, práticas inadequadas na aplicação de ureia podem causar poluição ambiental pela lixiviação e contaminar rios e reservatórios de água com nitrato, além de aumentar as emissões de gases que causam o efeito estufa. “Hoje os cálculos internacionais estimam que cada quilo de nitrogênio amônia equivale a quase 10 kg de CO2 equivalente, uma emissão bastante grande”, alertou.
FONTE: Canal Rural – Giro do Boi