img_1179A aplicação de microrganismos na lavoura pode reduzir drasticamente o uso de fertilizantes químicos e a emissão de gás carbônico (CO2), além de baratear os processos. Caraterísticas que podem gerar uma “Microrrevolução Verde”, conforme representantes de institutos de pesquisa, indústrias e órgãos reguladores que estão reunidos nesta semana, em Londrina, na 27ª edição da Reunião Latinoamericana de Rizobiologia (Relar) e na 28ª Reunião da Rede de Laboratórios para a Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola (Relare).
Na agricultura brasileira, o uso de microbactérias para fixação de nitrogênio na cultura de soja já representa US$ 12 bilhões de economia anuais em gastos com fertilizantes químicos. “No caso do Uruguai, se tivessem de comprar fertilizantes no lugar de microbactérias para a soja, o gasto seria equivalente a todo o rebanho de gado deles em valor”, afirma a presidente da Relar, Mariangela Hungria, também pesquisadora da Embrapa Soja.
O País é líder no desenvolvimento de tecnologias de Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) para não leguminosas e o responsável pela seleção das primeiras bactérias destinadas ao uso nas culturas do milho e do trigo. “O primeiro produto comercial desenvolvido chegou ao mercado em 2009 e hoje já são comercializados mais de 2 milhões de doses anuais de inoculantes contendo as bactérias Azospirillum”, conta Mariangela. Outra inovação foi o lançamento em 2012, pela Embrapa da coinoculação para as culturas da soja e do feijoeiro. “Essa coinoculação carrega rizóbios e Azospirillum, e vem tendo ótima aceitação por parte dos agricultores”, completa.
Pelo lado ambiental, ela explica que há uma redução de 45 a 65 milhões de toneladas na emissão de CO2 pelo uso de organismos biológicos na cultura na soja nacional, em substituição aos químicos. Por isso, foi dado o apelido em alusão à “Revolução Verde”, que foi o desenvolvimento da produtividade agrícola a partir dos anos 60 e que rendeu o Nobel da Paz ao pesquisador norte-americano Norman Bourlag.

Novidades
Nos eventos que buscam diminuir a distância entre indústria e pesquisas no País que é hoje um dos principais em pesquisa no setor do mundo, foram apresentadas, por exemplo, soluções para a cultura de cana-de-açúcar e coquetéis de bactérias para plantas, em substituição ao uso de apenas um tipo, entre outros. “Há 50 anos, quando começamos esse debate, estudávamos apenas microrganismos para fixação e hoje já são várias funções, como hormônios, solubilizadores de fosfato, de microalgas como fonte de biodiesel, de corantes”, exemplifica a presidente do evento.
Ela conta que o mercado no Brasil é grande e crescente, com cerca de 30 milhões de doses de inoculantes vendidas ao ano somente para a soja. “É possível expandir a prática a outras culturas.”
Engenheiro agrônomo e consultor da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), Solon Araujo afirma que o uso de bactérias para a fixação de nitrogênio é essencial para a agroindústria nacional. “Não teríamos a competitividade da soja no mercado internacional não fossem os inoculantes”, diz.
Para ele, a dimensão do território nacional faz com que a iniciativa privada necessite de mais trabalhos de campo por parte dos pesquisadores. “São muitos climas, solos e regiões diferentes no Brasil e precisamos que esses produtos sejam muito testados, então é nisso que a ANPII trabalha e dá suporte”, conta.

Os eventos
A 27ª Relar acabou ontem, quando começou a 28ª Relare, que se encerra hoje. Foram 350 participantes e 14 palestrantes de 40 países na primeira parte do evento, que buscou difundir conhecimentos entre pesquisadores e representantes do mercado do hemisfério sul. No encontro de hoje estão inscritos mais de 170 representantes da iniciativa privada, universidades, entidades e setor governamental.

Fábio Galiotto
Reportagem Local