Se de um lado os produtores somam melhorias em suas culturas e ganhos em produtividade; do outro, pesquisas têm comprovado, cada vez mais, as vantagens para o meio ambiente e a sustentabilidade ganha evidência

 

 

Curitiba/PR – Números como mais de 130 milhões de doses de inoculantes biológicos comercializados em 2022 e ganhos de 16% na produtividade na soja com a coinoculação* apontam um cenário bastante promissor para o mercado de insumos biológicos para a agricultura no Brasil. E os benefícios não se restringem aos bons resultados para os agricultores, já que os inoculantes têm se mostrado, de forma expressiva, também mais favoráveis ao meio ambiente, pois substituem em parte, e em algumas situações, até totalmente, os fertilizantes químicos nitrogenados, além da possibilidade de redução no uso de outros fertilizantes minerais fosfatados.

Décadas de pesquisas realizadas no país têm comprovado uma redução importante na emissão de gases de efeito estufa com o uso de inoculantes biológicos. De acordo com a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Mariangela Hungria da Cunha, com a fixação biológica do nitrogênio (FBN) apenas na soja (cultura que se destaca no uso desta tecnologia), tendo como base a produtividade atual dessa leguminosa no Brasil, há uma redução estimada de 5,4 toneladas de equivalentes de dióxido de carbono (CO2) por hectare. Contabilizando os mais de 44 milhões de hectares, o resultado é de uma expressiva redução de 236 milhões de toneladas de equivalentes de CO2, que deixam de ser liberados na atmosfera. E o Brasil tem potencial para melhorar esse cenário e atingir o número de 240 milhões de toneladas de equivalentes de CO2 não emitidas, somando o potencial também do milho ao da soja, segundo Mariangela. Em valores, isso representaria uma economia na compra de fertilizantes químicos de 27,4 bilhões de dólares para o mercado Agro brasileiro.

“Esses benefícios econômicos e ambientais resultam em ganhos sociais, melhorando não só a qualidade de vida dos agricultores, mas também de toda a sociedade”, avalia a pesquisadora da Embrapa, reforçando: “E tão importante quanto esses benefícios é mostrar que o investimento de longo prazo em pesquisas dá retorno econômico e ambiental ao país. Certamente, sem a pesquisa em FBN, o Brasil não se posicionaria como o maior produtor e exportador mundial de soja, pois os custos com fertilizantes nitrogenados inviabilizariam a competitividade”.

Mariangela Hungria da Cunha

 

Outro case de sucesso quando se trata dos benefícios do uso de inoculantes biológicos para os produtores e meio ambiente é a cultura do milho de acordo com a pesquisadora da Embrapa. Recentemente a instituição publicou trabalhos endossando a substituição de 25% da adubação nitrogenada de cobertura pela inoculação com Azospirillum brasilense no cultivo. Isso equivale a uma redução potencial no custo de produção de cerca de R$ 119,19/ha, ou seja, de mais de 0,5 bilhão de dólares para o país, considerando os 22,51 milhões de hectares de milho plantados. “Certamente, outros bons exemplos como esse virão nos próximos anos”, salienta Mariangela.

Para o diretor executivo da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), Solon Cordeiro de Araújo, o ambiente agrícola está aceitando e buscando, cada vez mais, os insumos biológicos. “De produtos alternativos, estão passando a ser a primeira opção dos agricultores em muitos casos. Para a manutenção deste cenário, é necessário continuar com um forte esquema de pesquisa e desenvolvimento, proporcionando produtos ainda com maior eficiência para o produtor rural”, considera.

Alguns entraves ainda precisam ser superados no Brasil, segundo o diretor executivo da ANPII, principalmente considerando nichos que utilizam de forma errada os insumos biológicos, que exigem cuidados em sua aplicação para sua maior eficiência. Atualmente, das 130 milhões de doses de inoculantes biológicos comercializadas no país, cerca de 80% são destinadas ao cultivo da soja, seguida pelo milho e trigo em relevância. Mas a proposta é que outras culturas também sejam beneficiadas e os resultados de pesquisas são fundamentais neste contexto.

“Além de representar politicamente o setor de inoculantes no âmbito político e regulatório, a ANPII tem um amplo trabalho de cooperação com as áreas de pesquisa, visando novos e mais eficientes produtos”, explica Solon, completando: “A ANPII vem realizando pesquisas científicas na forma de Aliança Estratégica Tecnológica, reunindo todas as empresas em estudos na fase pré-competitiva e esperamos em breve ver no mercado novas tecnologias, fruto desse trabalho colaborativo da entidade”.

Solon Cordeiro de Araujo

Agricultura sustentável – De acordo com Mariangela, pesquisadora da Embrapa, o Brasil é reconhecido internacionalmente como o país que mais se beneficia do uso de microrganismos na agricultura. “Essa não é uma luta de um único elemento. É da pesquisa, incansável em procurar pela inovação; é da indústria, que investiu e investe em inovações em um parque industrial que, sem dúvidas, está no topo do mundo. É também do legislativo, que fiscaliza para que aquilo que a pesquisa promete chegue com qualidade ao agricultor, que estimula boas práticas de fabricação. E é do agricultor, que acredita no que é dito pela pesquisa, pela extensão, pela indústria”, pontua, comentando que os números refletem toda essa cadeia de sucesso.

Um desafio, para a pesquisadora da Embrapa, é alcançar e atender melhor os pequenos produtores e disponibilizar produtos para outras culturas. “É triste ver que hoje, no mercado, não se encontra inoculantes para o feijoeiro, embora a pesquisa tenha selecionado estirpes excelentes, que resultam em alto rendimento sem nenhuma adição de fertilizantes nitrogenados. É necessário estimular o aumento da diversidade de produtos disponibilizados ao mercado”