O setor sucroenergético brasileiro pode estar próximo de usufruir dos benefícios da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), método que poderá elevar em no mínimo 15% a absorção de adubo nitrogenado no solo, proporcionando redução de custos e menor emissão de gases de efeito estufa sem perda de produtividade.
O consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Alfred Szwarc, cita os recentes avanços nas pesquisas feitas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) envolvendo um biofertilizante específico para as lavouras canavieiras.
Também conhecido como inoculante, este insumo biológico auxilia o processo de FBN e potencializa a ação de bactérias que transformam o nitrogênio do ar em alimento (açúcar, no caso da cana). Isso diminui a necessidade de produtos industriais como forma de enriquecer o solo.
“Associado ao inoculante natural, o uso do fertilizante industrial poderá ser otimizado, reduzindo as suas doses de aplicação no campo e, por consequência, os gastos do produtor. Quando estiver disponível comercialmente, este biofertilizante representará um importante avanço tecnológico para o setor sucroenergético”, diz o executivo da Unica. Para a Embrapa, a expectativa é que o inoculante da cana esteja nas prateleiras em um período máximo de 5 anos.
Alfred afirma que embora a fertilização nitrogenada seja uma das principais responsáveis pelo crescimento na oferta de alimentos a partir do século 20, a adubação com este tipo de elemento químico pode representar, no mínimo, 20% do custo total de produção. “A exemplo da cana-de-açúcar, a maioria das culturas agrícolas no Brasil ainda é dependente da fertilização nitrogenada, e quando tem que importar este insumo (grande parte produzida por China e Rússia) o produtor brasileiro sofre quando o dólar sobe”, diz.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa, Cláudia Pozzi Jantalia, quando o nitrogênio é absorvido – em média, usa-se 80 quilos por hectare de cana –, ele não é consumido em sua totalidade pela planta. “Se ela aproveitou 30% do fertilizante aplicado pelo produtor, a planta inoculada chega a aproveitar 45%. Ou seja, observa-se um ganho de 15%”, diz. Grande parte do que não for absorvido ficará acumulado no solo, segundo a especialista.
“De 100% do nitrogênio ativo (nitrato e amônia) presente no solo, o que fica disponível para a planta são apenas 5%. O restante, com exceção do que não for ‘perdido’, ficará na forma de nitrogênio orgânico, formando uma parede celular de bactérias e/ou raízes”, afirma Claudia.
Emissões
Em relação à diminuição das emissões de GEEs em função da adoção do inoculante, a especialista da Embrapa explica que reduzir a dose do fertilizante feito à base de petróleo significará lançar menos poluentes durante a sua produção industrial e utilização no campo.
“De forma resumida, existem as emissões diretas, que são oriundas das plantas industriais que o fabricam, e as indiretas, geradas no processo agrícola. Neste último caso, na fase de adubação, ela se dá quando o nitrogênio toma outros destinos que não sejam a planta em si, podendo tomar o caminho do subsolo (lixiviação), atingindo o lençol freático, onde as raízes da cana não chegam, ou o da forma gasosa (volatilização de amônia), lançando óxido nitroso no ar”, observa a especialista.