José Roberto, presidente da ANPII (Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes) afirma que o Brasil verá uma “grande expansão no uso de inoculantes”. Nessa entrevista ele fala sobre o cenário do uso de inoculantes no Brasil e sua importância para a agricultura do País. Revela ainda como as empresas do setor cooperam entre si e com a pesquisa pública, que trará avanços e novos produtos ao mercado.
Como está o cenário do uso de inoculantes na agricultura do Brasil?
Considerando a cultura da soja, que é a que merece destaque quanto ao uso de inoculante de forma expressiva no Brasil, na safra 18/19, o nível médio de adoção desta importante prática no Brasil foi de 82%, o equivalente a mais de 28 milhões ha do total de 36 milhões ha cultivados com a cultura. Essa taxa varia de acordo com a região e conforme o nível de investimento em tecnologias. Na Região Sul, a adoção média é de 73%, enquanto no Cerrado é de 88%. Mesmo com estes índices elevados, entendemos que ainda há espaço para crescimento na taxa de adoção.
Quais as culturas que mais empregam essa tecnologia?
Dentre as leguminosas, além da soja, o feijão, prato cheio dos brasileiros, também permite uma boa relação com as bactérias fixadoras de nitrogênio (N). Embora a eficiência da fixação biológica de N em feijão não esteja no mesmo nível daquele alcançado com a soja, os resultados de pesquisa são bem promissores, principalmente, com a coinoculação (associação de dois ou mais microrganismos, sendo os gêneros Bradyrizobium/Rhizobium + Azospirillum, a associação mais utilizada na agricultura brasileira). A coinoculação é uma prática que vem tendo sua adoção aumentada em função de proporcionar maior eficiência da fixação de N com consequente melhoria na produtividade. Na última pesquisa feita pela SPARK, a mesma constatou que a coinoculação em soja atingiu 15% da área total cultivada. A bactéria Azospirillum brasilense é capaz de se associar a diversas espécies de plantas, não só na coinoculação em leguminosas, mas também é consideravelmente utilizada na inoculação de gramíneas, como milho, trigo, arroz, e mais recentemente pastagem e cana-de-açúcar. Em todas as culturas citadas, já existem diversos trabalhos que evidenciam o ótimo desempenho dessa bactéria na maior produtividade das plantas. Em menor escala, há o emprego de inoculantes em diversos outros cultivos.
Qual é a importância dos inoculantes para a agricultura brasileira?
A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), permite que a transformação do N2 (presente em 80% do ar atmosférico) em N assimilável pelas plantas ocorra em temperatura e pressão ambiente, graças a ação da enzima presente no corpo das bactérias dentro do nódulo. Assim, em soja, cultura em que esse processo é o mais eficiente, quase que a totalidade do N requerido pela planta é fornecido a um baixíssimo custo e de forma ambientalmente correta, o que culmina em uma agricultura brasileira mais sustentável economicamente e ambientalmente. E o Brasil é hoje o país que mais utiliza esse exímio processo biológico, isso nos permite a evoluir sempre com pesquisas inovadoras no setor da FBN.
Como empresas do setor estão cooperando para a expansão do segmento?
Apesar de ser uma técnica tradicional, já utilizada comercialmente desde a década de 60 no Brasil, pesquisas têm sido realizadas pelas empresas em parceria com os principais especialistas da FBN no país, de modo que possamos continuar a inovar e levar aos produtores tecnologias que possam proporcionar ainda maior eficiência do sistema de produção. A ANPII, que congrega as principais empresas do setor que atuam no Brasil, tem estabelecido convênios com importantes universidades brasileiras com o objetivo de unir esforços no sentido de disponibilizar para os produtores agrícolas soluções ainda mais efetivas nos próximos anos. Além disso, a comunidade científica junto às empresas produtoras de inoculantes e às revendas e cooperativas, estão desenvolvendo um trabalho de conscientização do agricultor que já vem demonstrando resultados, como fica claro quando observamos a evolução da adoção da inoculação.
Que pesquisa está sendo feita em parceria com a Universidade Federal do Paraná para desenvolver o novo inoculante utilizando três cepas de Azospirillum brasiliense?
Essa é uma pesquisa extremamente inovadora, pois se trata de um trabalho conjunto entre as empresas associadas da ANPII, com o objetivo de desenvolver um inoculante com novas estirpes de Azospirillum brasilense mais eficientes na fixação de Nitrogênio e até mais tolerantes aos estresses ambientais. Essas estirpes foram selecionadas pelos pesquisadores da UFPR, quem identificou os potenciais das mesmas e que agora conta com a parceria da ANPII para o desenvolvimento de um inoculante comercial e promissor.
Como projeta o futuro do setor de inoculantes no Brasil?
Diante de todo o cenário exposto, confiamos que haverá uma grande expansão do uso de inoculantes no país na próxima década, tornando a agricultura brasileira ainda mais competitiva e sustentável.
Fonte: AGROLINK –Leonardo Gottems